CENTROS DE SAÚDE E POLÍTICA DE SAÚDE

MUDANÇA NA CONTINUIDADE
CONTINUIDADE NA MUDANÇA
 
Introdução
1-O Centro de Saúde na política nacional de saúde
1.1- Os Sistemas Locais de Saúde
1.2- Os Centros de Saúde da terceira geração
2- Política de saúde no Centro de Saúde
2.1- As necessidades de saúde
2.2- Objectivos estratégicos de saúde
2.3- A Missão
    2.4- Os recursos utilizados na concretização dos objectivos
 

2.4.1- Recursos próprios do Centro

a) Recursos humanos 
b) Recursos monetários e/ou financeiros 
c) Recursos materiais 
2.4.2- Recursos da comunidade 
 
Conclusão

Introdução
O desenvolvimento cientifico e tecnológico assim como medidas de caracter social têm conduzido a uma maior esperança de vida à nascença e melhores condições de saúde. Por outro lado, entre outras causas, as crescentes necessidades de saúde e as políticas sociais dos estados fundamentam as percentagens crescentes do P.I.B. que, nas últimas décadas, têm sido destinadas à saúde. Se é uma verdade aceite que cada país gere os seus recursos de saúde de modo a maximizar os ganhos em saúde com os mínimos custos e define o seu sistema de saúde e as suas prioridades; também nas últimas décadas se verificou que os gastos crescentes em saúde nem sempre eram correspondidos pelos respectivos ganhos; houve pois necessidade de instituir novos modelos de assistência à saúde que não só integrassem as novas tecnologias e os novos valores sociais de equidade e solidariedade, mas também permitissem novos modelos de gestão capazes de gerar ganhos em saúde.
A mudança nos sistemas de saúde é uma realidade dos países desenvolvidos no entanto é preciso estudar e controlar a mudança. Nos Estados Unidos há um centro para estudo da mudança nos sistemas locais de saúde que se dedica a estudar o modo como os sistemas de cuidados de saúde locais, estão a mudar e as alterações causadas por essa mudança nas pessoas, ao nível comunitário. Em Portugal, talvez pelas suas reduzidas dimensões, tais departamentos específicos e centralizados, não existem mas os estudos sobre a mudança ficam sob controlo de núcleos e dependência governamental. 
 
 
 
1- O centro de saúde na política nacional de saúde
A política portuguesa de saúde dos últimos anos, segue de um modo geral as tendências mundiais nomeadamente quanto à crescente descentralização e formas inovadoras de gestão que reforcem a autonomia das unidades prestadoras de cuidados de saúde. De facto, duas mudanças na política de saúde perfilham alterações fundamentais na posição que os centros de saúde têm desempenhado no sistema de saúde:
-         Os chamados Sistemas Locais de Saúde.
-         Os chamados Centros de Saúde da 3ª geração.
 

1.1- Os Sistemas Locais de Saúde

Os Sistemas Locais de Saúde são estruturas de integração horizontal que procuram integrar e articular progressivamente os diversos recursos de saúde segundo critérios geográficos e populacionais com o objectivo de prestar melhores cuidados de saúde e uma cooperação mais completa ao nível dos vários serviços de saúde, nomeadamente hospitais, centros de saúde e outros estabelecimentos públicos ou privados, assim como organizações não governamentais e instituições comunitárias prestadoras de cuidados de saúde ou com intervenção nesse domínio.
Nestes sistemas o centro de saúde, dotado de autonomia técnica e de gestão, constitui a unidade básica de entrada no Serviço Nacional de Saúde que pelo seu funcionamento integrado, em rede, e complementaridade técnica, procura assegurar de modo geral e continuado, a adequação da qualidade e da oferta de cuidados, às necessidades de uma determinada população.
 
1.2- Os Centros de Saúde da 3ª geração
Nos princípios da década de 70 em coexistência com os postos clínicos dos serviços médico-sociais, surgiram os centros de saúde que de início tinham um cariz mais preventivo e de saúde pública; entretanto a evolução técnica, social e dos conceitos de cuidados de saúde primários, promoção e protecção da saúde, conduziu à necessidade de novos modelos organizacionais que os centros de saúde da terceira geração, com autonomia técnica e de gestão, permitem.
A definição e modelos organizacionais dos Centros de Saúde de 3ª geração são determinados pela prestação de serviços e actividades integradas, polivalentes e dinâmicas que visam a promoção e vigilância da saúde, prevenção, diagnóstico e tratamento da doença dirigidas ao indivíduo, família e comunidade.
Neste modelo organizacional, o Centro de Saúde constitui a base da rede de cuidados que lhe permitem obter ganhos em saúde, melhorar a qualidade e acessibilidade, equidade e cuidados continuados num sistema de saúde centrado no cidadão. Este integra na sua composição diversas estruturas operacionais:
-         Unidades de saúde familiares
-         Núcleo de saúde pública
-         Núcleo de enfermagem comunitária
-         Unidade de consultorias técnicas
-         Unidade de internamento
-         Unidade básica de emergência
-         Unidade de farmácia
-         Repartição administrativa
 
 
2- Política de saúde no Centro de Saúde
 2.1- As necessidades de saúde
Para consolidar a política de saúde no centro de saúde é necessário fazer um levantamento das necessidades em saúde na área geodemográfica correspondente. Para tal é efectuado um estudo comunitário tendo em atenção os aspectos históricos do desenvolvimento da região e que de algum modo poderiam ainda influenciar a cultura e tradição sanitária da população. Seguidamente é realizado um estudo demográfico tendo em vista a distribuição da população por sexos e idades. O quadro sócio-económico foca por um lado a distribuição da população activa por sectores (primário, secundário e terciário) e por outro o parque habitacional tendo em atenção aspectos como alojamentos clássicos, barracas e outros; é também considerado o tipo de conforto da habitação nomeadamente quanto à existência de àgua canalizada, esgotos com ligação à rede e finalmente electricidade.
 
2.2- Objectivos estratégicos de saúde
O planeamento estratégico no Centro de Saúde, segue os objectivos gerais da política nacional de saúde e as particularidades referentes à região geodemográfica em que este centro se insere. Assim com os grandes objectivos do plano estratégico procura-se:
-         Melhorar a acessibilidade às consultas pela redução do tempo de espera.
-         Humanização e conforto nas instalações do centro de saúde pela marcação das consultas para a hora aproximada em que estas serão realizadas e melhoria das condições de limpeza e higiene das instalações utilizadas.
-         Assegurar as actividades prioritárias e melhorar a saúde de grupos específicos nomeadamente:
-         Saúde infantil
-         Saúde escolar
-         Saúde dos adolescentes
-         Planeamento familiar
-         Saúde materna
-         Saúde do diabético
-         Saúde do hipertenso
-         Saúde do doente oncológico
-         Melhorar a prevenção primária e o nível de saúde da população procurando respectivamente uma maior cobertura de vacinação e medidas de educação para a saúde.
-         Levar os cuidados de saúde e as consultas médicas ao domicílio sempre que a situação clínica do utente o justifique.
-         Motivar e satisfazer os profissionais envolvidos e realizar sessões multiprofissionais de formação permanente.
-         Identificar e controlar factores de risco para a saúde dos utentes e profissionais do Centro de Saúde.
-         Melhorar a eficiência económica reduzindo o custo por consulta, mantendo ou até elevando os ganhos em saúde. 
  
2.3- A Missão
Para consolidar a política de saúde no centro, a sua missão consiste em deixar transparecer, e até mostrar, que o Centro de Saúde está a mudar, a melhorar, e que nele se prestam cuidados de saúde com níveis de qualidade elevados e competitivos com as outras organizações privadas de saúde a operar nesta zona geográfica.

2.4- Os recursos utilizados na concretização dos objectivos
Apesar de não se inventariar todos os recursos afectados ao centro ou que de algum modo este pode utilizar, reconhece-se que para a concretização dos objectivos e implementação da missão, serão utilizados duas categorias de recursos: os recursos próprios do centro que de um modo geral são controlados por via superior e os recursos da comunidade que compreendem formas públicas e privadas incluindo organizações com e sem fins lucrativos.

 2.4.1- Recursos próprios do Centro

 a) Recursos humanos
Estes recursos compreendem essencialmente os médicos, pessoal de enfermagem e administrativo que são afectados ao centro por intermédio do departamento de recursos humanos da saúde; outros profissionais em funções são o segurança e o pessoal de limpeza que pertencem a empresas contratadas para o efeito.
Apesar de o Centro de Saúde não ter voz activa na política de contratação e afectação do pessoal que aí labora, é a este nível que mais se podem fazer sentir as mudanças operadas de acordo com os objectivos estratégicos e a missão. 
 
b) Recursos monetários e/ou financeiros
Os recursos monetários e financeiros são afectados e distribuídos a partir do orçamento geral do estado e o centro não tem grande margem de manobra para mobilizar este tipo de recursos. O centro tem capacidade para gerar uma pequena quantidade de recursos monetários, no entanto a política nacional de saúde implica que esta quantidade seja praticamente insignificante quando comparada com o montante necessário para o funcionamento do centro.
 
c) Recursos materiais
Os recursos materiais podem ser classificados em três categorias de acordo com a sua duração e desgaste:
-         Os edifícios do centro e as suas várias extensões que apesar do desgaste muito lento poderiam ser renovados, nomeadamente a pintura do seu exterior iria provocar um impacto inicial e positivo na população de utentes.
-         As secretárias, mesas, cadeiras, computadores etc., têm um desgaste menos lento mas precisam periodicamente de ser substituídos para actualização ou porque deixaram de ser funcionais.
-         Finalmente outros recursos de uso corrente como medicamentos, material de penso, seringas, papeis etc. que pela sua curta duração implicam uma renovação constante. Alguns destes recursos como papéis de prescrição, de análises ou atestados poderiam conter mensagens de saúde dirigidas ao utente, estas pela sua novidade iriam despertar a atenção positiva inicial e confirmariam o clima de mudança no sentido de melhor servir o cidadão.
  
2.4.2- Recursos da comunidade
 O Centro de Saúde ocupa, na comunidade em que se insere, uma posição de reconhecido mérito e prestigio que lhe permite mobilizar muitos dos recursos de que esta dispõe no sentido de melhorar a saúde da população.
Os recursos da comunidade podem ser de âmbito público ou privado. O sector público dispõe de vários estabelecimentos com funções sociais como os infantários e as escolas em que a figura do médico é geralmente bem considerada e a sua palavra ouvida; assim a educação para a saúde pode ter inicio precoce com várias campanhas e sessões dirigidas às educadoras e à população em idade escolar; na idade adulta as mensagens de saúde e esclarecimento podem ser difundidas por panfletos e cartazes colocados em serviços públicos como as repartições de finanças, câmaras municipais, rádios locais e outros; na terceira idade os lares e casas de repouso do estado são óptimos locais de educação para a saúde mas também de treino aos empregados que aí laboram.
O sector privado dispõe de várias instalações e organizações sociais com e sem fins lucrativos. Os clubes recreativos, culturais e desportivos; os bombeiros e outras associações com sede ou filiais na zona geográfica do centro, podem ser mobilizados no sentido de identificar necessidades de saúde e colaborar em programas de saúde. Também a mobilização de empresas privadas de saúde como clinicas e consultórios privados, laboratórios de análises e as casas de idosos, infantários etc., pode integrar uma equipe a funcionar em rede no sentido de melhorar a cobertura de saúde e fazer cumprir o programa estratégico de saúde para o centro.
  

Conclusão

Com este trabalho pretendeu-se apresentar de forma sintética e resumida os aspectos fundamentais do modo como a política nacional de saúde influencia a tomada de decisões por parte do centro de saúde e por outro lado o modo como o centro de saúde executa e pratica a assistência à saúde dentro da política nacional de saúde. De facto, considerando esta interface e as realidades locais, traçam-se os objectivos estratégicos do centro, para aplicação a uma população concreta.