Toxicodependência Juvenil

INTRODUÇÃO
Desde aproximadamente duas décadas atrás que a pesquisa na área da toxicodependencia juvenil se tem voltado dos estudos clássicos centrados no jovem para programas alargados que envolvem não só o jovem mas também o ambiente que o rodeia procurando conhecer e aumentar os factores de protecção e diminuir os factores de risco.
A família como célula fundamental da sociedade pode constituir um factor de risco ou de protecção no uso de droga pelos adolescentes, de facto, as relações do adolescente com a sua família depois das horas passadas na escola, assim como as expectativas que os pais tem relativamente ao jovem completar os estudos secundários ou superiores e também a relação entre pais, professores e outros familiares, em conjunto com aspectos como identidade religiosa, colegas e amigos, vizinhos e comunidade em geral constituem os maiores factores na modulação social do comportamento adolescente.
PAIS TOXCODEPENDENTES OU PERMISSIVOS A TOXICODEPENDENCIA
O uso de drogas pelos pais ou substitutos parentais, frequentemente está associado a maiores probabilidades de o adolescente se iniciar cedo no consumo dessas substâncias. Também o envolvimento do jovem no consumo dos pais como por exemplo mandar o jovem comprar cigarros, cerveja ou outras drogas, constitui um factor de risco para o inicio precoce no consuma das respectivas substancias.
A atitude paternal de permissividade relativamente ao uso de drogas pelos adolescentes, ainda que legais, é um factor chave no estímulo ao consumo e que se agrava ainda mais se esse adolescente tiver amigos que habitualmente utilizam substâncias de abuso.
PADRÕES DE COMUNICAÇÃO NA FAMÍLIA
Os padrões de comunicação na família têm um impacto claro no comportamento dos jovens.
Alguns autores consideram a influência da família mais importante do que a pressão dos amigos para o uso de drogas.
A criança educada num ambiente acolhedor e pouco crítico, facilmente desenvolve padrões de auto-estima e felicidade. Também o facto de os pais comunicarem claramente as suas expectativas de comportamento, valores, padrões e objectivos educacionais assim como as vias de gerir o stress e o conflito de modo positivo, frequentemente desenvolve na criança padrões de felicidade e adaptação.
O suporte e a comunicação familiar aberta constituem medidas de protecção que em conjunto com a gestão e monitorização do adolescente podem diminuir a pressão dos amigos para o uso de drogas.
Por outro lado as expectativas pouco claras para o comportamento do adolescente, assim como uma disciplina ou demasiado inconsistente ou demasiado punitiva, associadas a falta de carinho e conflito entre os pais ou substitutos e baixas expectativas de sucesso para a criança, contribuem para o uso precoce de substancias de abuso e respectiva dependência.
MONITORIZAÇÃO DO TEMPO, ACTIVIDADES E AMIGOS
O modo como as famílias supervisionam os seus jovens no que diz respeito aos limites impostos ao uso de drogas mas também nas tarefas e rotinas de organização da casa e nas tomadas de decisão é um factor importante para o inicio e manutenção do consumo de drogas.
A deficiente monitorização dos comportamentos do jovem está frequentemente associada a um risco acrescido de consumir droga, sobretudo quando esta pobre monitorização ocorre antes dos 11 anos de idade.
È sabido que os adolescentes cujos amigos usam drogas têm maior tendência para também as usarem, por outro lado os adolescentes que provêm de famílias onde são usadas drogas são mais propensos a consumirem eles próprios e a escolher amigos que também as usem.
Quando os pais exercem uma forte monitorização do adolescente este escolhe menos amigos que usam drogas. Assim os pais têm uma forte influência nas escolhas dos amigos feitas pelos adolescentes e podem induzir a escolha de amigos que desaprovem o uso de droga pois isso diminui a probabilidade de estes a usarem, por correrem o risco de perder esses amigos.
Também uma má gestão do tempo dedicado ao estudo e lazer durante o ano escolar pode estar associada com altos níveis de stress emocional e uso de drogas ou outros comportamentos disfuncionais.
RELAÇÕES FAMILIARES
O bom suporte familiar constitui um dos modos mais adequados de coping e desenvolvimento de competências académicas assim como menor tendência para comportamentos desviantes.
A união do jovem a sua família e a ligação dos pais com o filho, com o envolvimento nas suas actividades, constitui um factor de protecção muito importante por aumentar o bem-estar e a resistência a tentação do uso da droga.
Outro importante factor de protecção consiste na família fechada em que os pais envolvem a criança num ambiente de protecção e suporte com encorajamento de actividades educacionais e passam tempo de qualidade com a criança em ambiente de união familiar.
Nem sempre uma boa relação pais/filhos constitui um factor de protecção, fundamentalmente quando a mãe usa drogas, a sua boa relação com o jovem aumenta o risco de este ultimo também usar.
O facto de os pais não usarem droga não constitui só por si um factor de protecção absoluto, pois quando as relações do jovem com pais não consumidores são fracas, o jovem tem um risco acrescido de iniciar o consumo.
OS COLEGAS E O SEU RELACIONAMENTO COM A FAMÍLIA
Desde longa data que se reconhece os amigos e colegas como um factor de influência, fundamental no uso de drogas. Várias teorias do desenvolvimento e controlo social indicam que fortes ligações com grupos de jovens que partilham normas antidroga favorecem uma orientação dos jovens livre de droga.
Alguns autores verificaram que o consumo de drogas por familiares como pais ou irmãos são factores indirectos que condicionam a escolha dos amigos por parte dos adolescentes.
Os namorados/as são, na adolescência, uma das maiores influencias no comportamento dos jovens em relação á droga.
Uma comunicação aberta entre pais e filhos em relação á droga constitui geralmente um factor de protecção, no entanto quando os adolescentes se juntam com amigos consumidores, a comunicação aberta, nestes grupos, apesar de raramente ser referida pelos adolescentes como uma pressão ao consumo, agrava o risco pela tendência á conformidade para com as normas e valores do grupo.
Muitos adolescentes encaram os seus amigos como a principal rede de suporte, seguida pelos familiares, professores e outros orientadores.
Nas raparigas com baixa competência escolar, a maior rede de suporte foi associada ás colegas de classe, tendo-se verificado maior abuso de substancias sobretudo haxixe e tabaco.
A percepção do uso de drogas na família, amigos e na escola constitui um factor frequentemente relatado como prévio ao uso de drogas.
ESTRUTURA FAMILIAR E AMBIENTE EXTERNO
O uso de drogas pelos adolescentes é menor quando estes vivem com ambos os pais biológicos ou até adoptivos e agrava-se nas famílias em que há um padrasto/madrasta ou então o jovem vive com apenas um dos progenitores.
Em comparação com jovens do sexo masculino, as raparigas adolescentes que vivem com apenas um progenitor ou com um progenitor e padrasto/madrasta tem um risco aumentado para abuso de drogas.
Ambiente externo a família
Vários estudos têm revelado que os adolescentes sentem os elementos da família como as maiores fontes de influência para o seu comportamento sendo os pais em primeiro lugar seguidos pelos avós.
Outros elementos de influência são os cultos religiosos, professores, amigos e comunidade em geral.
Alguns jovens no inicio da adolescência referem ter um herói e que este lhes influencia o comportamento e normalmente este herói encontra-se entre os parentes, amigos ou então entre atletas, figuras religiosas ou artistas.
Alguns adultos que não pertencem á família como religiosos, professores e vizinhos podem ter uma grande influencia no comportamento dos adolescentes e normalmente quanto mais significativo for o relacionamento com estes adultos, mais forte se torna  a relação com os familiares.
Conselheiros adultos
Os jovens bem sucedidos tem de um modo geral conselheiros adultos como avós, irmãos mais velhos, professores ou vizinhos que lhes proporcionam suporte emocional consistente e funciona como uma rede de suporte extra familiar e factor de protecção contra a droga.
CONCLUSÃO
Alguns dos resultados sobre os motivos que conduzem os jovens ao consumo de drogas, foram aqui expostos.
A pesquisa alargada revelou tratar-se de factores sociais e sobretudo familiares como fundamentais para o inicio e manutenção de tais comportamentos.
A utilidade deste conhecimento (e dos factores) assenta por um lado na possibilidade de partir para novas investigações e novos conhecimentos úteis e por outro na necessidade de estratégias integradas e globais de combate a toxicodependencia.
Efectivamente a partir de tais investigações, é agora possível delinear estratégias de prevenção em que se inclui o fornecimento de informações seguras aos pais, professores ou líderes comunitários com impacto nos jovens e assim, com base em conhecimentos científicos, contribuir para evitar a entrada dos jovens no mundo degradado da toxicodependência.