Caso Clínico de Oncologia

Tumor de células germinativas
 
Homem, nascido em 1957, divorciado, gerente de profissão, natural de Zzzzz, raça caucasiana, residente em Zzzzz zzzzzz.
 
Internado em 19zz para realização do 5º ciclo de quimioterapia com BEP.
 
Refere como únicos antecedentes pessoais amigdalites de repetição e operação ao tímpano direito há 6 anos. Nega diabetes e HTA.
 
Dos antecedentes familiares refere prima (de 2ª) paterna, falecida por leucémia há 5 anos. Desconhece outras doenças oncológicas na familia.
Nega outras doenças de tendência heredo-familiar.
 
Os dados anamnésicos iniciam-se em Janeiro 9zz quando nota um aumento do volume e consistência testicular esquerda, sem qualquer tipo de dor. Nesta altura não valorizou estas alterações, porém como o testículo continuava a aumentar de volume e consistência, decidiu ir pela 1ª vez ao médico em Junho de 9zz.
 
Fez então uma ecografia testicular em 9zz que revelou testículo esquerdo de dimensões aumentadas e uma ecoestrutura francamente heterogénea. Epidídimo com volume aumentado e heterogéneo. Coexistência de moderado hidrocélio, pelo que foi enviado a consulta de Cirurgia Geral do Hospital em 9zz tendo efectuado biópsia que, segundo o doente refere, não revelou alterações.
 
Em Julho de 19zz fez consulta de Urologia tendo sido medicado com DUSPATAL e INDOCID  sem obter melhorias clínicas. Nesta altura foi proposta intervenção cirúrgica para Setembro 9zz e foram pedidos exames complementares de diagnóstico.
 
Entretanto em Agosto de 19zz fez análise de urina que, segundo refere, foi negativa; fez também os doseamentos de -FP=0,8ng/ml e ß-HCG=0ng/ml.
As análises hematológicas e bioquímicas do sangue de 9zz tiveram os seguintes resultados: Hb=13,8; Hct=36%; VGM=83; L=4900; N=57%; Plaquetas=240.000; Na+=133; K+=4,3; Cl-=103; Glicose=99; Urea=56; Creatinina=0,7.
 
Ainda neste mês, associado ao continuo aumento testicular esquerdo, surge dor no hipogastro com agravamento e generalização progressiva a todo o abdómen e irradiação lombar bilateral, pelo que  recorreu ao S. U. do Hospital tendo feito terapêutica com DUSPATAL  sem obter melhoria.
 
Durante estes últimos três meses( Junho - Agosto 9zz) o doente teve um emagrecimento involuntário de aproximadamente 10 Kg ( 8070Kg).
 
Em 9zz recorreu ao Médico de Família que perante a persistência do quadro clinico pediu TAC abdomino-pélvica realizado 9zz cujo resultado indicava alterações testiculares esquerdas com extensão ao longo do cordão espermático e de todo o território linfático retroperitoneal lombo-aórtico com volumosas adenomegálias que se estendem ao espaço perirenal esquerdo e infiltração do fascia de Gerota esquerdo, marcadamente espessado. Adenomegálias retrocrurais direitas. Derrame pleural esquerdo.
 
Foi então enviado a este Serviço de Oncologia com urgência, por suspeitar de tumor metastático do testículo.
 
Em 9zz foi internado de urgência neste Serviço de Oncologia por dores abdominais difusas.
 
O exame objectivo sumário foi descrito como bom estado geral e de nutrição.    Eupneico.
Adenomegalia axilar esquerda.
ACP- M. v. diminuido na base esquerda.
Palpação abdominal indolor, com abdómen depressivel e livre; massa no flanco direito, RHA+.
Sem edemas.
Foi medicado com CLONIX e LEXOTAN.
 
Em  9zz foram pedidas ecografia testicular e análises entre as quais os marcadores tumorais cujo resultado foi: -FP=2,18ng/ml e -HCG4,5.
A LDH=582 foi o único marcador laboratorial de doença activa. A ecografia escrotal foi realizada em 9zz tendo sido comparada com as anteriores o que revelou maior volume do testículo com os restantes aspectos sobreponiveis aos anteriores.
 
Foi também pedido TAC tóraco-abdominal com biopsia dirigida para as adenopatias abdominais, tendo esta sido realizada em 9zz e o resultado citológico indicado: Metástase ganglionar de tumor de células germinativas.
 
Em 9zz inicia o 1º ciclo de Quimioterapia com BEP (Bleomicina - 30mg semanal; Etoposido - 150mg do 1º ao 5º dia; Cisplatinum - 35mg do 1º ao 5º dia); nesta altura apesar do bom  estado  geral,  tem  no  tórax macissez à percussão com abolição das vibrações vocais e auscultação com murmúrio vesicular ausente no 1/3 inferior do hemitórax esquerdo.
No abdómen tem uma massa tumoral no flanco direito, desde o hipocondrio direito ao umbigo, que não se mobiliza com a respiração; e se apresenta como um cilindro no flanco.
O testículo esquerdo está alongado e doloroso; o cordão espermático é grosso ( 1,5cm). O testículo direito também tem volume aumentado mas de forma e consistência normal
Fez então, ainda em 9zz, ecografia escrotal que revelou testículo direito normal e testículo esquerdo muito aumentado com diâmetros de 116 X 52 X 63 mm, estrutura totalmente alterada por lesão tumoral com marcada neovascularização.
Em 9zz fez Rx tórax que revelou sinais de derrame pleural no 1/3 inferior esquerdo.
No controlo pós 1º ciclo de QT, realizado em 9zz, há uma diminuição acentuada do volume testicular para cerca de metade e desaparece a massa tumoral do flanco esquerdo, a -FP=2,17ng/ml.
Em 9zz inicia o 2º ciclo de QT com BEP, tendo feito controlo laboratorial de
-FP=2,17 em 9zz e depois em 9zz fez -HCG4,20mU/ml.
 
No dia 9zz é avaliado a -FP=3,52 e DHL=479 e neste dia inicia o 3º ciclo de QT com BEP.
 
Em 9zz, altura em que termina o terceiro ciclo de QT, mantém o volume testicular a diminuir de tamanho.
Foi neste dia pedido um TAC tóraco-abdomino-pélvico, que ficou marcado para 9zz, antes da intervenção cirúrgica, que será realizada após todos os ciclos de QT.
 
Em 9zz é internado para fazer o 4º ciclo com BEP e á palpação abdominal não se encontram massas. Nesta altura o testículo esquerdo ainda tem um volume 4-5 Xs superior ao normal; e o valor de LDH=449.
 
Em 9zz é internado para fazer o 5º ciclo de QT, antes foi realizada transfusão de eritrócitos ( tinha Hb=7,1 ), seguidamente é reavaliado e iniciou QT em 9zz.
 
De um modo geral o doente tolerou sempre bem a Quimioterapia e os efeitos acessórios mais frequentes foram:
Náuseas e vómitos
Mucosite de grau I
Anemia,  leucopénia,  trombocitopénia.
Hipomagnesiémia.
 
 
Comentário:
Tratando-se de um seminoma em estágio II avançado com boa resposta á quimioterapia pré-cirurgia de remoção do tumor, é de supor uma evolução e prognóstico favoráveis, com alta probabilidade de remissão completa ou mesmo cura, após a finalização de todos os tratamentos médicos e cirúrgicos.